As Bibliotecas Queimadas na História: Conhecimento Perdido para Sempre
- Geo Expand
- 17 de abr.
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Atualizado: 22 de abr.
Ao longo da história, bibliotecas têm sido alvos de destruição, resultando na perda irreparável de vastos acervos de conhecimento. Esses eventos não apenas eliminam documentos físicos, mas também apagam partes significativas da memória e da identidade cultural de civilizações inteiras.
Biblioteca de Alexandria
A Biblioteca de Alexandria, iniciada no século III a.C. no Egito, foi um dos grandes centros de aprendizado da Antiguidade. Ela foi formada sob o governo de Ptolemeu II Filadelfo com o intuito de reunir todo o conhecimento do mundo, tornando-se o centro intelectual do Império Grego. A biblioteca abrigava centenas de milhares de rolos de papiro que abordavam uma grande variedade de assuntos, incluindo filosofia, ciência, astronomia, cuidados de saúde e matemática.
A queima da biblioteca aconteceu em várias fases. A primeira teria sido causada pelo incêndio ocorrido após a batalha de Alexandria, em 48 a.C., durante a ação de Júlio César no Egito. Porém, os registros históricos sobre esse evento são incertos. Outras fontes indicam que a biblioteca foi parcialmente destruída durante invasões cristãs no século IV d.C., quando o imperador Teodósio ordenou a destruição dos templos pagãos.
Há também a teoria de que o incêndio final, em 642 d.C., teria sido causado pela invasão árabe de Alexandria, embora essa versão seja mais contestada.
O que é certo é que a perda da Biblioteca de Alexandria representou um dos maiores desastres culturais da história, apagando vastas quantidades de conhecimento científico e literário que poderiam ter moldado o desenvolvimento de muitas áreas do saber.
A tentativa de reconstrução do acervo da Biblioteca de Alexandria, embora não tenha sido possível de forma completa, continuou ao longo dos séculos. Com o tempo, os esforços de preservação e digitalização do legado tornaram-se essenciais, como no caso do projeto moderno da Biblioteca de Alexandria, inaugurada em 2002, que visa continuar o trabalho de sua antecessora com acervos e recursos digitais de alto nível.

Universidade de Nalanda
A Universidade de Nalanda foi fundada no século V d.C., na Índia, durante o reinado do imperador Gupta Kumaragupta I, e tornou-se um dos mais notáveis centros de aprendizado do mundo antigo. Ela era considerada uma das maiores universidades budistas da época e atraía estudantes de diversas partes do mundo. Nalanda oferecia cursos em filosofia, medicina, astronomia, lógica, matemática e outras disciplinas. Sua biblioteca, chamada Dharmaganja, era famosa por conter milhões de manuscritos sobre diversos temas.
Em 1193, a Universidade de Nalanda foi destruída pelas tropas do general turco Bakhtiyar Khilji. O ataque foi brutal, e a biblioteca foi incendiada. Estima-se que milhões de manuscritos tenham sido queimados. A motivação por trás dessa destruição está ligada a razões religiosas e políticas. Durante o domínio islâmico, o conhecimento budista e outras doutrinas eram frequentemente alvos de ataque, e a biblioteca de Nalanda foi considerada uma das maiores concentrações de saberes não islâmicos, o que resultou em sua destruição.
A reconstrução da Universidade de Nalanda é um exemplo de como a preservação do conhecimento histórico ainda é possível. O sítio arqueológico de Nalanda foi designado Patrimônio Mundial da UNESCO em 2016, e a nova Universidade de Nalanda foi estabelecida nas proximidades, com apoio internacional, com o objetivo de reavivar o espírito de intercâmbio acadêmico e cultural que existia na universidade original.

Manuscritos de Timbuktu
Timbuktu, localizada no Mali, foi um importante centro de aprendizado no mundo islâmico, especialmente entre os séculos XV e XVI. As bibliotecas da cidade armazenavam milhares de manuscritos sobre uma vasta gama de temas, incluindo ciência, matemática, astronomia, filosofia, direito islâmico e poesia. Essas bibliotecas eram pontos de referência na África Ocidental, sendo que muitos desses manuscritos estavam escritos em árabe, uma língua fundamental para os estudos islâmicos.
Em 2012, durante a ocupação de Timbuktu por grupos extremistas islâmicos ligados à Al-Qaeda, muitas dessas bibliotecas foram saqueadas e destruídas. Os radicais, que consideravam muitos desses textos heréticos ou contrários ao islamismo, queimaram uma parte significativa do acervo. No entanto, a maior parte dos manuscritos foi salva por moradores locais, que esconderam milhares de livros e os enviaram para outras partes do Mali para preservação.
A preservação de Timbuktu continua até hoje, com iniciativas de digitalização e projetos de conservação promovidos por organizações internacionais e locais. O trabalho árduo de pesquisadores, bibliotecários e cidadãos malineses tem ajudado a recuperar e proteger o valioso legado intelectual da cidade.

Biblioteca de Mosul
A Biblioteca Central de Mosul, no Iraque, foi outro grande exemplo de tristeza cultural. Ela guardava uma vasta coleção de livros raros, jornais antigos e manuscritos com centenas de anos de história. Em 2015, durante a ocupação da cidade pelo Estado Islâmico, muitos desses livros foram queimados, destruindo mais de 8.000 obras, incluindo textos romanos e manuscritos antigos iraquianos.
Após a expulsão do Estado Islâmico, houve um esforço internacional para reparar os danos. Em 2017, o governo iraquiano, junto com agências internacionais, iniciou o trabalho de recuperação do acervo perdido. A reforma contou também com voluntários que salvaram livros dos escombros e de bibliotecas públicas. Em 2018, a biblioteca da cidade foi reaberta com um novo compromisso de proteger e guardar o conhecimento iraquiano. Essa reabertura foi celebrada como um ato de resistência contra a destruição do patrimônio cultural do país.

Por Que Queimam Bibliotecas?
Guerras e invasões: Bibliotecas são vistas como símbolos culturais dos povos e são atacadas para enfraquecer suas identidades.
Fanatismo ideológico: Grupos radicais destroem saberes que vão contra suas crenças.
Descaso e negligência: A falta de cuidado, recursos ou proteção também leva à perda de acervos.
Consequências da Destruição
Perda de conhecimento único: Ideias, descobertas e histórias se apagam para sempre.
Prejuízo cultural: Povos perdem partes essenciais de sua identidade e memória.
Atraso educacional: A destruição de centros de estudo impacta o aprendizado de gerações futuras.
Reconstrução e Preservação
Digitalização de acervos: É a principal ferramenta para guardar o conhecimento de forma segura e acessível.
Reconstrução física: Algumas bibliotecas, como a de Mosul, estão sendo restauradas com apoio internacional.
Consciência global: Mais do que nunca, proteger o conhecimento virou um esforço coletivo.
Bibliotecas Que Resistiram
Ao longo da história, algumas bibliotecas conseguiram resistir à destruição, tornando-se símbolos da preservação do conhecimento e da identidade cultural. Um exemplo notável é a Biblioteca do Mosteiro de São Galo, na Suíça, fundada no século VIII. Ela abriga manuscritos raríssimos da Idade Média e sobreviveu graças ao trabalho dos monges beneditinos, que durante séculos protegeram esse acervo mesmo em tempos de instabilidade política e religiosa.
Outro caso importante é o da Biblioteca Bodleiana, da Universidade de Oxford, uma das mais antigas da Europa. Criada em 1602, ela superou períodos turbulentos como a Guerra Civil Inglesa e a Segunda Guerra Mundial, mantendo e ampliando seu vasto acervo. Seu modelo de preservação inspirou outras instituições, e hoje ela é um dos maiores centros de pesquisa do mundo, com milhões de volumes acessíveis ao público e aos estudiosos.
Além dessas, há bibliotecas que resistiram a regimes autoritários e à censura. A Biblioteca Nacional da Argentina, por exemplo, enfrentou incêndios, mudanças de governo e perseguições políticas durante a ditadura militar, mas permaneceu ativa. Esses casos provam que, quando há compromisso coletivo com o saber, o conhecimento pode se tornar mais forte do que a violência e sobreviver por gerações.
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