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Astrologia na política medieval: Como reis tomavam decisões baseadas nas estrelas

  • Foto do escritor: Geo Expand
    Geo Expand
  • 30 de abr.
  • 5 min de leitura

Durante a Idade Média, a astrologia, que hoje em dia é vista como o estudo da influência de corpos celestes em nossas vidas, era levada extremamente a sério durante esse período, podendo inclusive ter uma definição diferente do que sabemos atualmente, podendo ser definida como um “sistema de interpretação e visão do futuro”, sendo utilizada pelos astrólogos da época, que eram conhecidos e nomeados como “mathematici”, os quais aplicavam seus estudos sobre o espaço e posições dos planetas em áreas diversas como na política, agricultura e medicina.

A astrologia medieval se baseava na ideia do “macrocosmo influenciando o microcosmo”, ou seja, que os corpos celestes (macrocosmo) exerciam influência direta sobre o ser humano e os acontecimentos terrenos (microcosmo). Essa crença vinha de Aristóteles e Ptolomeu, e foi integrada ao cristianismo por pensadores como Tomás de Aquino.


A influência dos astros nas decisões cotidianas

Ao decorrer desse período, a astrologia não era apenas uma ferramenta importante para a monarquia, mas também para a população medieval. Por exemplo, os camponeses utilizavam os serviços dos mathematici para determinar os melhores momentos para plantar e colher, baseando-se nas fases da lua ou na posição dos planetas. Esse serviço era visto como um ótimo presságio para colheitas e plantações futuras, sendo transmitido para gerações futuras.


A astrologia também mantinha um papel extremamente relevante na medicina medieval. Médicos e curandeiros utilizavam os serviços dos mathematici para o diagnóstico de doenças e para definir os melhores momentos para se iniciar um tratamento, como a dosagem de remédios. Acreditava-se que cada parte do corpo era regida por um signo do Zodíaco, e que isso influenciava o bem-estar e a saúde daquela região, como por exemplo, o coração com Leão e os rins com Libra, e isso guiava os tratamentos médicos.


A astrologia como ferramenta estratégica nas cortes reais

Não somente a população, mas reis frequentemente utilizavam a astrologia como ferramenta estratégica em decisões políticas, militares e sociais. Acreditava-se que os mathematici influenciavam diretamente os acontecimentos na época, então consultar esses astrólogos dentro da corte era essencial para manter o império e o sucesso do reino.


Os reis utilizavam a astrologia para momentos e eventos importantes, como a realização de coroações, casamentos reais, alianças e reuniões com reinos próximos, acreditando que a posição dos planetas poderia influenciar o sucesso desses eventos e decisões.


A monarquia utilizava desses serviços também em decisões militares. Antes de iniciar qualquer batalha ou campanha militar, buscava-se sempre a orientação de um mathematici para escolher datas favoráveis, visando aumentar a chance de vitória ou minimizar danos e mortes.


A astrologia também era utilizada para a decisão e legitimação de novas figuras políticas, como os reis, sendo definidos pelas influências celestiais e apresentados como os escolhidos e abençoados pelas estrelas.


Muitos reis também mantinham mathematici pessoais ou cortesãos especializados em astrologia, que forneciam conselhos regularmente sobre questões políticas, sociais e pessoais, com os reis tomando essas decisões com base nas interpretações desses astros.


Reis Medievais e a Astrologia: Exemplos de Liderança Guiada pelos Astros

Os reis costumavam ter astrólogos pessoais em suas cortes, que acompanhavam de perto as decisões políticas. Esses profissionais analisavam o posicionamento dos astros e faziam previsões sobre o futuro do reino. Em muitos casos, os reis só tomavam uma decisão após receberem a aprovação dos mathematici.


Alguns desses astrólogos tinham o mesmo prestígio que conselheiros ou médicos. Um exemplo é Guido Bonatti, astrólogo influente no século XIII, que trabalhou para várias cidades italianas.

Catarina de Médici da França: Catarina de Médici, rainha da França, era famosa por sua consulta com astrólogos, especialmente com o italiano Cosimo Ruggeri. Ela recorreu a ele para tomar decisões políticas, como quando usou a astrologia para aconselhar sobre a melhor data para se casar com Henrique II, visando um casamento bem-sucedido e uma maior estabilidade política para a França.
Catarina de Médici da França: Catarina de Médici, rainha da França, era famosa por sua consulta com astrólogos, especialmente com o italiano Cosimo Ruggeri. Ela recorreu a ele para tomar decisões políticas, como quando usou a astrologia para aconselhar sobre a melhor data para se casar com Henrique II, visando um casamento bem-sucedido e uma maior estabilidade política para a França.


Matias Corvino da Hungria: Matias Corvino, rei da Hungria, manteve o astrólogo Martin Bylica como conselheiro principal. Bylica foi responsável por elaborar horóscopos para a família real, influenciando decisões importantes, como questões militares e políticas, especialmente relacionadas à defesa.
Matias Corvino da Hungria: Matias Corvino, rei da Hungria, manteve o astrólogo Martin Bylica como conselheiro principal. Bylica foi responsável por elaborar horóscopos para a família real, influenciando decisões importantes, como questões militares e políticas, especialmente relacionadas à defesa.


Pere III de Aragão: O rei Pere III de Aragão também usou astrologia como uma forma de aconselhamento. Ele tinha o astrólogo Bartomeu de Tresbens, que escreveu tratados astrológicos e ajudou a orientar decisões políticas e dinásticas, considerando os movimentos dos astros.
Pere III de Aragão: O rei Pere III de Aragão também usou astrologia como uma forma de aconselhamento. Ele tinha o astrólogo Bartomeu de Tresbens, que escreveu tratados astrológicos e ajudou a orientar decisões políticas e dinásticas, considerando os movimentos dos astros.


Frederico II da Sicília: O imperador Frederico II da Sicília teve o astrólogo Michael Scot como conselheiro. Frederico II acreditava que a astrologia era uma prática essencial para a tomada de decisões no reino, tanto políticas quanto militares, e Michael Scot era uma figura-chave em sua corte, orientando-o com base nas estrelas.
Frederico II da Sicília: O imperador Frederico II da Sicília teve o astrólogo Michael Scot como conselheiro. Frederico II acreditava que a astrologia era uma prática essencial para a tomada de decisões no reino, tanto políticas quanto militares, e Michael Scot era uma figura-chave em sua corte, orientando-o com base nas estrelas.

Albrecht von Wallenstein: Albrecht von Wallenstein, comandante militar do Sacro Império Romano-Germânico, consultava horóscopos, incluindo tendo Johannes Kepler como astrólogo pessoal. Wallenstein acreditava que a astrologia influenciava o destino e utilizava as previsões astrológicas para tomar decisões militares.
Albrecht von Wallenstein: Albrecht von Wallenstein, comandante militar do Sacro Império Romano-Germânico, consultava horóscopos, incluindo tendo Johannes Kepler como astrólogo pessoal. Wallenstein acreditava que a astrologia influenciava o destino e utilizava as previsões astrológicas para tomar decisões militares.

O Papel da Astrologia na Formação Universitária Medieval

Nas universidades medievais, como as de Bolonha e Paris, a astrologia era considerada uma disciplina essencial, especialmente no contexto matemático e em outras áreas, que incluíam formas como a aritmética, geometria, música e astronomia. Essas áreas eram vistas como fundamentais para a compreensão do mundo natural e humano, refletindo a crença medieval de que o cosmos e a Terra estavam interligados.

O ensino da astrologia nessas instituições era estruturado e formalizado, sendo levado muito a sério pela população. Em Bolonha, por exemplo, a formação de astrologia foi estabelecida em 1125, destacando a importância da disciplina na formação acadêmica da época.


Os professores de astrologia eram figuras respeitadas, com destaque para nomes como Pietro d’Abano, que lecionou em Paris e Pádua, e Bartholomew of Parma, que atuou em Bolonha. Esses acadêmicos não apenas transmitiam o conhecimento astrológico, mas também contribuíam para o desenvolvimento e a sistematização da disciplina.


Em resumo, a astrologia nas universidades medievais não era apenas uma curiosidade acadêmica, mas uma disciplina central que permeava diversas áreas do conhecimento, influenciando a medicina, a filosofia e a compreensão do mundo natural. Seu estudo era visto como uma chave para entender as leis divinas e naturais que governavam o universo.


A Astrologia e o Destino Real: Reflexões sobre o Poder nas Estrelas

A força da astrologia na política medieval vai além de uma simples crença ou superstição. Ela mostra como, por muito tempo, os líderes e suas cortes viam o universo como uma fonte de saber e ajuda para decisões cruciais. Na Idade Média, onde a ciência como conhecemos hoje ainda estava nos primeiros passos, a astrologia atuava não só como um meio de prever, mas também como uma ligação entre o que vemos e o que não vemos, entre a ordem da Terra e as forças do espaço.


Ao consultar astrólogos, reis queriam mais que respostas sobre eventos futuros; eles buscavam segurança, aprovação e uma sensação de controle no destino dos seus reinos. Em uma época quando guerras eram, na maioria das vezes, decididas por fatores imprevisíveis ou alianças políticas frequentemente frágeis, a astrologia dava uma perspectiva simbólica de que o curso do império devia ser guiado pelas estrelas. Mesmo sem a explicação científica atual que hoje temos sobre o universo, essa prática antiga ainda era, para governantes medievais, um jeito de enfrentar desafios e governar, dando senso de previsibilidade e orientação a decisões que moldariam o futuro dos seus territórios.


Assim, a astrologia teve um papel chave, deixando os líderes medievais não só tomar boas escolhas, mas também ter uma grande visão do seu poder, onde o firmamento, as estrelas e os movimentos do espaço não eram só olhados, mas usados para ajudar na formação do destino do trono.


A astrologia, mais do que superstição, foi uma bússola simbólica e estratégica que guiou impérios, decisões e destinos ao longo da Idade Média.


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