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Guerra do Vietnã: Cicatrizes da Guerra Fria 

  • Foto do escritor: Geo Expand
    Geo Expand
  • 16 de mar.
  • 6 min de leitura

 A Guerra do Vietnã não foi apenas mais um conflito militar; foi uma ferida aberta na história mundial, marcada por decisões questionáveis e consequências devastadoras. Ela perdurou de 1955 a 1975, decorrente da disputa ideológica da Guerra Fria, quando o comunismo e o capitalismo se enfrentaram de maneiras impensáveis. 

Para os Estados Unidos, o Vietnã era o campo de batalha crucial contra a expansão do socialismo. Mas será que, ao se envolver nesse conflito, os EUA realmente sabiam o que estavam enfrentando? Olhando para a Guerra do Vietnã, podemos refletir sobre como ela influenciou o mundo em que vivemos hoje.


Contexto Histórico: Um Pedaço de Terra no Centro da Guerra 

O Vietnã não se tornou o centro da Guerra Fria por acaso.

Durante o século XIX, foi uma das colônias da Indochina Francesa. Tal domínio opressor que gerou uma série de movimentos nacionalistas de resistência, os quais foram responsáveis pelo fim do colonialismo, mas também moldaram uma luta interna na região que a deixou vulnerável.

Além disso, depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu em dois blocos ideológicos: o bloco socialista, sob a influência da União Soviética, e o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos. Diante disso, o Vietnã se deu como um território estratégico para ambos estes lados. 


Conferência de Genebra de 1954:

Em meio ao estado de alta tensão interna e externa deste território clamaram pela interferência internacional, de modo que, durante a Conferência de Genebra, foram assinados acordos com a intenção de solucionar a questão.

Assim,  juntamente ao fim da colonização na região, os Acordos De Genebra determinaram que o país seria dividido em dois, com um Norte comunista e Sul capitalista, transformando aquela terra em um reflexo da polarização no século XX. Essa decisão, por sua vez, acabou por reforçar as rivalidades, agora, transformando-as em uma verdadeiro guerra.

Os EUA temiam a possibilidade de um “efeito dominó” — a ideia de que se o Vietnã do Norte vencesse, outros países da região seguiriam pelo mesmo caminho comunista — e, por isso, enxergavam no Vietnã do Sul uma linha de defesa contra a propagação do socialismo e o apoiavam contra as forças do Norte que eram, por sua vez, área de influência da URSS. 


Intensificação do Conflito: Massacre My Lai

Nos anos seguintes, o apoio dos Estados Unidos ao governo do Vietnã do Sul se intensificou. Em 1965, o presidente americano Lyndon B. Johnson decidiu enviar tropas para o Vietnã do Sul, com o objetivo de impedir que o Norte comunista tomasse o país. Este foi um ponto de virada, marcando o início de um conflito armado que se tornaria cada vez mais impopular e brutal.

Em 1968, um dos episódios mais trágicos e representativos da brutalidade da guerra ocorreu: o Massacre de My Lai. Soldados americanos mataram entre 300 e 500 civis vietnamitas, sem qualquer justificativa militar aparente.

Este massacre, escondido da mídia por meses, finalmente foi revelado e se tornou um símbolo da violência desmedida do conflito, gerando um movimento crescente de oposição à guerra.


Surge a Pergunta: O Que  Verdadeiramente Estava em Jogo?

A Guerra do Vietnã não era apenas sobre território; era uma luta ideológica com repercussões globais. Para os Estados Unidos, a guerra era sobre impedir que o comunismo se espalhasse, mantendo o capitalismo e a democracia como pilares. Para o Vietnã do Norte, e seus aliados soviéticos e chineses, a guerra representava a luta pela liberdade contra o imperialismo ocidental.

A pressão para derrotar o Vietnã do Norte levou a decisões cada vez mais controversas. Alguns exemplos foram a operação Rolling Thunder e também o bombardeio de Hanoi:


  1. Operação Rolling Thunder


A Operação Rolling Thunder foi uma extensa campanha de bombardeio aéreo conduzida pelos Estados Unidos e Vietnã do Sul contra o Vietnã do Norte durante a Guerra do Vietnã, ocorrendo de 2 de março de 1965 a 1 de novembro de 1968. A operação tinha quatro objetivos principais: elevar a moral do Vietnã do Sul, pressionar o Vietnã do Norte a interromper seu apoio à insurgência comunista no sul sem necessidade de invasão terrestre, destruir a infraestrutura e defesas aéreas do norte e impedir o envio de homens e materiais ao sul. 


Como uma das campanhas aéreas mais longas de todos os tempos, Rolling Thunder terminou como um fracasso estratégico ao fim de 1968 tendo atingido nenhum de seus objetivos primários, apesar de ter infligido sérios danos ao Vietnã do Norte e sua infraestrutura.


  1. Bombardeio de Hanoi: Operação Linebacker II


Em 18 de dezembro de 1972, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, deu início a uma intensa ofensiva aérea conhecida como “Operação Linebacker II”. Essa campanha, que também ficou popularmente chamada de “bombardeio de Natal”, consistiu em uma série de ataques massivos no norte do Vietnã, com destaque para a cidade de Hanói. Ao longo de 11 dias consecutivos, mais de 20.000 toneladas de explosivos foram lançadas, atingindo não apenas alvos militares, mas também áreas civis, resultando em consideráveis perdas humanas e materiais. Essa operação foi uma das mais devastadoras e gerou forte comoção internacional, sendo amplamente criticada por organizações humanitárias e pela opinião pública mundial.


Então, à medida que as tropas dos EUA se intensificavam no Vietnã, a luta se tornava cada vez mais desigual. O que parecia ser uma missão de proteção do mundo livre foi sendo questionada por uma sociedade cada vez mais cética. O que estava em jogo, afinal? A democracia americana ou a vida de milhares de inocentes vietnamitas?


Brutalidade Televisionada em Tempo Real

Esse conflito não foi apenas um evento distante – ele invadiu a sala de estar de milhões de americanos e pessoas ao redor do mundo. Pela primeira vez na história, os conflitos eram transmitidos ao vivo na televisão, trazendo a brutalidade da guerra diretamente para o público. As imagens de civis mortos, crianças fugindo e pais desesperados chocaram uma geração inteira.

Em 1968, o ataque do Tet — uma ofensiva militar do Vietnã do Norte durante o Ano Novo Lunar — pegou os EUA de surpresa, mostrando ao mundo que a guerra estava longe de ser vencida. Mesmo após esse grande ataque, o presidente Johnson insistia em afirmar que a vitória estava próxima, o que gerou ainda mais desconfiança entre a população americana. 

Dessa forma, o sofrimento dos civis e o uso de armas químicas como o Agente Laranja, que afetou gravemente a saúde da população local, mostraram a face mais cruel da guerra e expuseram falhas escondidas da intervenção militar dos EUA. A esperança foi que a exposição de tanta violência pudesse trazer a tona a conscientização


Vitória Comunista e o Desapego Americano

A chamada queda de Saigon, no dia 30 de abril de 1975, simbolizou a derrota americana e a unificação do país sob o comando do líder socialista do Norte.

Quando a batalha chegou ao fim, o Vietnã foi reunificado sob o regime comunista, e a vitória do Vietnã do Norte foi um golpe duro para os Estados Unidos. 

No fim, a derrota não foi apenas militar, mas também simbólica. Um preço altíssimo foi pago com as vidas de mais de 58000 estadunidenses mortos, e um número de vietnamitas ainda superior, incluindo civis, combatentes e aqueles que sofreram com os efeitos das armas químicas ao decorrer do conflito. 

Apesar do fim da guerra, cicatrizes físicas e psicológicas desse evento perduram até hoje, tanto no Vietnã quanto nos EUA. 


Conclusão: O Legado da Guerra do Vietnã 

A Guerra do Vietnã foi um dos capítulos mais sombrios da Guerra Fria e ainda ecoa em muitas partes do globo. Será que realmente aprendemos com ela? 

Diante disso, muitos estudiosos das ciências humanas pensam o fim da Guerra Fria meramente como um marco, uma vez que a tensão decorrente desse conflito entre grandes potências mundiais em um ordem mundial bipolar ainda se reflete na comunidade internacional através de rivalidades ideológicas entre EUA, China e Rússia, as quais são reforçadas em meio à conflitos armados.

Todavia, atualmente, também podemos pensar em uma comunidade mais multilateral, com o desenvolvimento da ONU (Organizações das Nações Unidas) após as guerras do século XX e o estabelecimento da soberania nacional, esperando que conflitos como estes possam finalmente cicatrizar e sejam evitados ao máximo possível.

Desse modo, a história vietnamita, com suas perdas e vitórias, tem o importante papel de nos desafiar a refletir sobre o custo da guerra, os valores que realmente importam e as dinâmicas de poder no cenário global, inspirando a negociação diplomática na resolução das questões internacionais.


Um correspondente de guerra americano em patrulha com o exército sul-vietnamita (1962).
Um correspondente de guerra americano em patrulha com o exército sul-vietnamita (1962).

 
 
 

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