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Muito Além da Bastilha: Entenda Como a Revolução Francesa Moldou o Mundo

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    Geo Expand
  • 7 de abr.
  • 14 min de leitura

Introdução

No fim do século XVIII, a França era uma “panela de pressão” prestes a explodir. Desigualdades sociais profundas, uma economia em crise e um governo absolutista desconectado da realidade popular criaram o ambiente perfeito para uma revolta. Mas o que começou como uma insatisfação popular se transformou em um movimento revolucionário que mudou o mundo para sempre. A pergunta que fica é: como uma nação conseguiu derrubar uma monarquia secular e inspirar revoluções ao redor do planeta?


1. Como a Revolução Francesa surgiu? - Contexto Histórico


1.1 O Antigo Regime Francês

Antes da revolução, a França era governada por um sistema conhecido como Antigo Regime. A sociedade era dividida em três estamentos:

  • Primeiro Estado: o clero

  • Segundo Estado: a nobreza

  • Terceiro Estado: a população em geral, formada por camponeses, burgueses, trabalhadores urbanos e camadas mais pobres

Esse sistema era extremamente desigual. Os dois primeiros estados concentravam riquezas e não pagavam impostos, enquanto o Terceiro Estado carregava o peso da carga tributária.


Imagem I - Pirâmide que demonstra a hierarquia na sociedade estamental francesa do antigo regime. 
Imagem I - Pirâmide que demonstra a hierarquia na sociedade estamental francesa do antigo regime. 

1.2 Crise financeira e má administração

A França vivia uma crise econômica profunda. Os gastos excessivos da monarquia, principalmente com guerras como a Guerra dos Sete Anos e a ajuda à independência dos Estados Unidos, deixaram o país endividado. Ao mesmo tempo, a população sofria com a fome e a alta no preço dos alimentos.


1.3 Iluminismo e novas ideias

Os ideais iluministas também tiveram um papel importante. Filósofos como Rousseau, Voltaire e Montesquieu criticavam o absolutismo e defendiam liberdade, igualdade e participação popular no governo. Essas ideias se espalharam, especialmente entre a burguesia, inflamando o desejo de mudança.


1.4 Assembleia dos Estados Gerais

Em maio de 1789, o rei Luís XVI convocou a Assembleia dos Estados Gerais, um evento que não acontecia na França há mais de 170 anos. Era uma tentativa do rei de lidar com a grave crise financeira do país, que havia sido agravada por anos de gastos excessivos da corte e pelo apoio francês à Independência dos Estados Unidos. O objetivo era discutir soluções para aumentar os impostos e tentar reorganizar as finanças do reino.

A Assembleia era composta por representantes dos três estados da sociedade francesa. Mas havia um grande problema: cada estado tinha direito a apenas um voto coletivo, e não um voto por pessoa. Ou seja, mesmo representando a maior parte da população, o Terceiro Estado sempre era vencido pelos votos combinados da nobreza e do clero, que defendiam seus próprios privilégios.


Cansados dessa injustiça, os representantes do Terceiro Estado exigiram mudanças no sistema de votação. Quando não foram ouvidos, tomaram uma atitude radical: se separaram da Assembleia e formaram a chamada Assembleia Nacional Constituinte, declarando que representavam, de fato, o povo francês. Dias depois, juraram não se dispersar até criar uma nova constituição para a França – foi o famoso Juramento do Jogo da Péla, um momento simbólico de ruptura com o Antigo Regime.

Esse gesto marcou o ponto de virada da Revolução Francesa. Pela primeira vez, o povo (ou seus representantes) enfrentava diretamente o poder do rei e da aristocracia. A partir daí, os acontecimentos se acelerariam rumo à queda da monarquia e à construção de uma nova ordem baseada nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.


1.4.1 Assembleia Nacional Constituinte

Formada em 1789 pelos representantes do Terceiro Estado, a Assembleia Nacional Constituinte foi criada com o objetivo de elaborar uma nova Constituição para a França. Ela marcou a transição do poder absoluto do rei para um modelo baseado em leis escritas e representatividade popular. Durante seu funcionamento, aprovou medidas decisivas, como o fim dos privilégios feudais e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão — um marco revolucionário na história política do Ocidente. 


Imagem II - A Assembleia Nacional Constituinte Francesa de 1789, um momento crucial na história da França
Imagem II - A Assembleia Nacional Constituinte Francesa de 1789, um momento crucial na história da França

2. Como a Revolução Aconteceu? - Linha do Tempo e Principais Eventos

2.1 A Queda da Bastilha e o início da Revolução

A Bastilha era uma antiga fortaleza medieval localizada em Paris, utilizada como prisão estatal para opositores políticos, críticos da monarquia e pessoas presas por ordens diretas do rei — muitas vezes sem julgamento. Mais do que um simples prédio, ela representava o símbolo do autoritarismo do Antigo Regime, da repressão monárquica e dos abusos de poder da realeza.

Quando a população parisiense, revoltada com a fome, o desemprego e a falta de representatividade política, invadiu a Bastilha em 14 de julho de 1789, o ato teve um valor simbólico e político imenso: era o povo desafiando abertamente o poder absoluto do rei. A queda da Bastilha marcou o início oficial da Revolução Francesa, inflamou revoltas por toda a França e deu força ao movimento popular.

Hoje, o 14 de julho é celebrado como feriado nacional na França, conhecido como o Dia da Bastilha, em homenagem ao momento em que os franceses romperam com séculos de opressão e deram os primeiros passos rumo à liberdade e à república.



Imagem III - A tomada da Bastilha, um marco da Revolução Francesa, retratada em uma pintura dramática. 
Imagem III - A tomada da Bastilha, um marco da Revolução Francesa, retratada em uma pintura dramática. 

2.2  A monarquia constitucional

Após a queda do absolutismo, a Revolução Francesa tentou, inicialmente, manter o rei no poder, mas sob limites bem definidos. Assim, em 1791, foi promulgada a primeira Constituição francesa, que transformava a França em uma monarquia constitucional — modelo inspirado no sistema britânico.

Nesse novo regime, Luís XVI continuaria como chefe de Estado, mas com poderes reduzidos e subordinado a uma Assembleia Legislativa, eleita por voto censitário (apenas cidadãos que pagavam impostos podiam votar). O poder executivo ficava nas mãos do rei, mas ele não podia mais governar sozinho nem impor sua vontade sobre o Parlamento.

A monarquia constitucional tentou equilibrar as forças entre a tradição monárquica e os ideais iluministas, como a separação dos poderes e os direitos individuais. No entanto, ela enfrentou muita resistência de ambos os lados: os republicanos queriam o fim total da monarquia, enquanto os monarquistas radicais não aceitavam os limites ao poder real. 


2.3 A queda da monarquia (1792)

Diante da pressão popular e das crescentes tensões internas, a família real tentou fugir da França em 1791 — no episódio conhecido como Fuga de Varennes. No entanto, eles foram reconhecidos, capturados e trazidos de volta a Paris sob forte desconfiança do povo.

Em 1792, com a radicalização do movimento revolucionário e a perda total de legitimidade da monarquia, a Assembleia Legislativa votou pela abolição do regime monárquico e proclamou a Primeira República Francesa. Foi uma mudança de regime profunda: o rei deixou de ser o chefe de Estado, e o poder passou a ser exercido por representantes eleitos. Esse novo governo buscava consolidar os ideais revolucionários, colocando fim a séculos de absolutismo.

A Primeira República foi marcada por grande instabilidade e disputas internas — desde os jacobinos mais radicais até os girondinos, mais moderados —, mas representou o nascimento de um novo modelo político baseado em soberania popular, direitos civis e participação cidadã. Mesmo com suas contradições e excessos, foi um marco na história política da França e do mundo. 


             2.3.1 Girondinos e Jacobinos – As disputas políticas na Primeira República

Com a instauração da Primeira República, a França mergulhou em uma intensa disputa política entre dois grupos principais: girondinos e jacobinos.

Os girondinos representavam a ala mais moderada da revolução. Eram, em sua maioria, membros da alta burguesia comercial e defendiam uma república liberal, com menos intervenção do Estado e maior respeito à propriedade privada. Temiam o radicalismo popular e buscavam preservar uma ordem mais estável e menos violenta.

Já os jacobinos, liderados por figuras como Maximilien Robespierre, representavam a ala mais radical. Tinham forte apoio dos sans-culottes (membros das camadas populares urbanas da França) e defendiam reformas mais profundas, como a redistribuição de terras, controle de preços e punições severas contra os "inimigos da revolução". Acreditavam que só seria possível consolidar a república por meio de medidas duras e centralizadas.

O conflito entre esses grupos levou a uma crescente tensão dentro do governo revolucionário. Essa divisão entre girondinos e jacobinos mostra como a revolução francesa não foi um movimento homogêneo, mas sim cheio de contradições e disputas internas que moldaram o rumo da história.


     Imagem IV - Retrato de Maximilien Robespierre, um dos líderes da Revolução Francesa.
     Imagem IV - Retrato de Maximilien Robespierre, um dos líderes da Revolução Francesa.

2.4 Execução de Luis XVI e Maria Antonieta

Em janeiro de 1793, Luís XVI foi julgado pela Convenção Nacional (assembleia que assumiu o poder na França após a queda da monarquia) e condenado por traição, acusado de conspirar contra a Revolução e tentar restaurar o absolutismo. A execução por guilhotina, realizada em plena Praça da Revolução, representou uma ruptura definitiva com a monarquia e teve como objetivo afirmar a autoridade do novo regime republicano, demonstrando que, naquele momento histórico, até mesmo o rei poderia ser julgado e condenado pelas leis estabelecidas.

Poucos meses depois, em outubro, Maria Antonieta, rainha da França e símbolo da ostentação da monarquia, também foi condenada e guilhotinada. As execuções chocaram outras monarquias europeias e aprofundaram os conflitos entre a França revolucionária e os demais países do continente.

Imagem V - A pintura retrata a prisão de Maria Antonieta, rainha da França, durante a Revolução Francesa. A cena é tensa, com soldados cercando a rainha enquanto ela é escoltada para a prisão. 


2.5 Período do Terror (1793-1794)

Com o aumento das tensões internas e externas, os jacobinos assumiram o controle do governo e implantaram medidas radicais para tentar estabilizar a Revolução e enfrentar os inimigos, tanto dentro quanto fora da França.Sob a liderança de Maximilien Robespierre, o Comitê de Salvação Pública passou a governar com poderes amplos para proteger a Revolução.

Esse período ficou conhecido como "Terror", pois milhares de pessoas foram presas e executadas por suspeita de traição, inclusive antigos aliados moderados, como os girondinos. A guilhotina se tornou um símbolo da repressão.

Entre as medidas adotadas por tal goverbo estavam o controle de preços (Lei do Máximo), o recrutamento militar obrigatório, a centralização autoritária do poder e a adoção do sufrágio universal masculino, que substituía o voto censitário e ampliava, ao menos formalmente, a participação política popular.

Apesar disso, o clima de medo e repressão acabou gerando desgaste entre os próprios revolucionários. Em 1794, Robespierre foi preso e executado, marcando o fim do Terror e o início de uma fase mais moderada da Revolução.



Imagem VI - Período do Terror (1793-1794)
Imagem VI - Período do Terror (1793-1794)

           2.5.1 Lei do Máximo Geral – Controle de preços durante o Terror

Com a crise econômica se agravando, a Convenção Nacional, sob domínio jacobino, aprovou em 1793 a Lei do Máximo Geral, que limitava os preços de produtos essenciais, como pão, trigo e carvão, além de fixar salários. O objetivo era conter a inflação e garantir o abastecimento da população, principalmente dos sans-culottes. Apesar da intenção de justiça social, a medida causou tensões com os comerciantes e produtores, que passaram a esconder produtos ou recorrer ao mercado clandestino.


2.5.2 Comitê de Salvação Pública – O centro do poder revolucionário

Criado em 1793 pela Convenção Nacional, o Comitê de Salvação Pública tinha como objetivo centralizar o governo e proteger a Revolução Francesa das ameaças internas e externas. Composto inicialmente por nove membros, incluindo Maximilien Robespierre, o comitê passou a ter controle quase total sobre o Estado, comandando o exército, supervisionando tribunais revolucionários e impondo medidas severas contra os “inimigos da revolução”.


2.6 Ascensão de Napoleão Bonaparte – O fim da Revolução e o início de um novo regime

Após o Período do Terror, a Revolução Francesa entrou em uma fase marcada por instabilidade política, crise econômica e descontentamento social. O poder passou para o Diretório, novo órgão governamental formado por cinco membros — em sua maioria ligados ao grupo dos girondinos. No entanto, o Diretório enfrentou dificuldades para administrar o país, conter os conflitos internos e lidar com as guerras externas. Além disso, o voto censitário foi restabelecido, limitando novamente a participação política apenas aos cidadãos mais ricos e excluindo grande parte da população, o que aumentou o sentimento de frustração e desigualdade.

Nesse cenário de fragilidade institucional, o Exército ganhou protagonismo. Um de seus generais mais populares era Napoleão Bonaparte, conhecido pelas vitórias em campanhas militares, como a da Itália. Aproveitando-se do enfraquecimento do Diretório e do apoio que possuía, Napoleão liderou o Golpe de 18 de Brumário, em novembro de 1799, encerrando formalmente o período revolucionário.

Com o golpe, Napoleão assumiu o poder como primeiro-cônsul da França, instaurando um governo autoritário e centralizado. Ainda que tenha rompido com os ideais democráticos da Revolução, seu regime manteve algumas conquistas importantes, como o Código Civil, que consolidou princípios como a igualdade jurídica, o direito à propriedade e o Estado laico. Sua ascensão marca a transição entre o ciclo revolucionário e o início do período napoleônico. 


Imagem VII - Napoleão Bonaparte recebe o juramento das autoridades como Primeiro-Cônsul. Autor: Auguste Couder
Imagem VII - Napoleão Bonaparte recebe o juramento das autoridades como Primeiro-Cônsul. Autor: Auguste Couder

3. Por que a Revolução Francesa ainda importa hoje? - Relevância Atual

A Revolução Francesa continua sendo um marco essencial para compreender a política e os direitos no mundo contemporâneo. Seu impacto foi tão profundo que ultrapassou os limites da França, inspirando transformações políticas e sociais ao redor do globo. Um dos legados mais evidentes foi o fim do absolutismo: ao desafiar o poder ilimitado dos reis e colocar o povo como protagonista da história, a Revolução abriu caminho para o surgimento de regimes constitucionais, onde o poder do Estado passa a ser limitado por leis, e os cidadãos têm participação ativa nas decisões políticas.

Além disso, a Revolução Francesa fortaleceu ideias como cidadania, Estado laico e direitos civis, que até hoje estruturam muitas democracias. Os princípios de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", nascidos naquele contexto, se tornaram valores universais e influenciaram diretamente diversas constituições modernas, consolidando o ideal de que todos os cidadãos devem ser iguais perante a lei, livres para expressar suas ideias e viver em uma sociedade justa.

Seu exemplo também impulsionou diversas outras lutas. Desde os processos de independência na América Latina, passando pelos levantes na Europa do século XIX, até movimentos mais recentes, como as primaveras árabes ou protestos por direitos civis, a Revolução Francesa serviu de referência simbólica e prática para aqueles que buscam justiça social e mudança.

Portanto, ao estudar a Revolução Francesa, não estamos apenas olhando para o passado, mas compreendendo as raízes dos valores democráticos que ainda hoje orientam sociedades em constante transformação.


4. Desafios e Críticas à Revolução Francesa

Apesar de seus inegáveis avanços, a Revolução Francesa foi um processo profundamente contraditório e repleto de desafios. A promessa de liberdade, igualdade e fraternidade nem sempre se traduziu em práticas coerentes. Ao longo de seus diferentes estágios, a Revolução foi marcada por intensa violência, perseguições políticas e instabilidade constante. O ideal de liberdade, por vezes, foi usado como justificativa para ações autoritárias, como os julgamentos sem direito à ampla defesa e as execuções em massa promovidas durante o chamado Período do Terror.


Além disso, os próprios ideais proclamados pela Revolução apresentavam contradições profundas. Embora o discurso da igualdade tenha sido pregado, ele não se estendeu a todos os grupos sociais, pois muitos grupos continuaram marginalizados. As mulheres, por exemplo, continuaram excluídas dos direitos políticos e jurídicos, sendo silenciadas mesmo após terem participado ativamente de diversos momentos revolucionários. A abolição da escravidão em 1794 nas colônias francesas, por pressão das revoltas que ocorreram nelas, acabou sendo revertida anos depois por Napoleão Bonaparte — uma demonstração clara dos limites da Revolução quanto à universalização da liberdade.


Outro ponto crítico foi a dificuldade em consolidar um sistema democrático estável. Se por um lado a Revolução abriu espaço para o debate político e o surgimento de formas de governo mais representativas, por outro, também criou as condições para o surgimento de regimes autoritários. O império de Napoleão, que concentrou o poder e restringiu liberdades, é prova de que os ideais revolucionários foram frequentemente instrumentalizados em benefício de projetos pessoais ou de classes dominantes.


Nesse sentido, é importante destacar que a população — especialmente às pessoas com baixo poder aquisitivo — foi constantemente manipulada. No Antigo Regime, era controlada pela nobreza e pelo clero; na Revolução, passou a ser utilizada como massa de manobra por uma nova elite emergente: a burguesia. Embora esta tenha liderado o processo em nome do povo, suas ações muitas vezes priorizaram interesses econômicos próprios, marginalizando os mesmos grupos sociais que diziam representar. Assim, o povo continuou sem acesso real ao poder, servindo ora como instrumento de pressão nas ruas, ora como justificativa simbólica para decisões tomadas nos bastidores.


5. Curiosidades sobre a Revolução Francesa

1. A queda da Bastilha não libertou muitos presos: Apesar de ser um símbolo da tirania do Antigo Regime, no dia da queda da Bastilha (14 de julho de 1789), apenas sete prisioneiros estavam encarcerados — nenhum deles por motivos políticos. A importância do evento foi muito mais simbólica do que prática.

2. A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: Inspirada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a escritora e ativista Olympe de Gouges redigiu, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, na qual defendia a igualdade jurídica, política e civil entre homens e mulheres — algo inédito para a época. Ela denunciava a exclusão feminina na Revolução Francesa, questionando, por exemplo, como as mulheres podiam ser punidas pela lei, mas não tinham o direito de participar de sua elaboração. Suas ideias, consideradas ousadas e perigosas pelo governo revolucionário, irritaram profundamente os jacobinos, especialmente por ela criticar abertamente o autoritarismo de Robespierre. Em 1793, Olympe foi presa e condenada à morte por traição, sendo guilhotinada em Paris. Sua trajetória simboliza tanto o avanço quanto as contradições da Revolução, que prometia igualdade, mas continuava a silenciar vozes femininas.

Nota da autora: Recomendo a leitura de tal documento. (Link: declaracao_direitos_mulher_cidada.pdf)

3. A Revolução aboliu os títulos de nobreza e até o 'Monsieur': A tentativa de apagar traços do Antigo Regime foi tão intensa que até formas de tratamento como Monsieur e Madame foram substituídas por citoyen (cidadão) e citoyenne (cidadã).

4. O calendário revolucionário foi criado do zero: Para romper com a influência religiosa, os revolucionários criaram um novo calendário em 1793, com meses baseados nas estações do ano (como Brumário, Frimário e Germinal), semanas com 10 dias e o ano começando no equinócio de outono.

5. O hino nacional francês, La Marseillaise, nasceu na Revolução: Composto em 1792 como um canto de guerra, ele virou símbolo da luta revolucionária e, mais tarde, foi adotado oficialmente como hino da França.

6. As palavras “esquerda” e “direita” nasceram ali: Durante os debates na Assembleia Nacional, os grupos políticos se sentavam de acordo com suas posições ideológicas: à esquerda, os mais radicais e defensores do povo(jacobinos); à direita, os defensores do rei e da ordem tradicional(girondinos. Assim surgiram os termos que usamos até hoje!

7. O chapéu vermelho dos revolucionários — o barrete frígio: Durante a Revolução Francesa, muitos revolucionários passaram a usar um chapéu vermelho chamado "barrete frígio", que se tornou um poderoso símbolo de liberdade e resistência à opressão. Esse tipo de gorro tem origem na Antiguidade, mais especificamente na Frígia, uma região da atual Turquia, e era usado por escravos libertos no Império Romano — por isso, passou a ser associado à emancipação e à luta contra a tirania. Este chapéu também foi utilizado como mascote das Olimpíadas 2024, simbolizando o espírito olímpico e a cultura do país sede. 


Imagem VIII - Les Phryges, os mascotes das Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris 2024 — Foto: Christophe Ena/AP
Imagem VIII - Les Phryges, os mascotes das Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris 2024 — Foto: Christophe Ena/AP

Conclusão

A Revolução Francesa foi, sem dúvida, um dos marcos mais poderosos da história moderna. Ao desafiar os alicerces do Antigo Regime, ela abalou as estruturas de poder que sustentavam uma sociedade profundamente desigual. Pela primeira vez, o povo foi colocado formalmente no centro da política, e conceitos como liberdade, igualdade e fraternidade deixaram de ser apenas ideias filosóficas para se tornarem bandeiras de luta. Contudo, por trás desses ideais elevados, também se esconde uma complexa trama de interesses e manipulações.

Mas é preciso olhar também para as sombras desse processo. Se antes o povo era explorado pela nobreza e pelo clero, durante a Revolução foi frequentemente manipulado e usado como massa de manobra pela burguesia, que soube canalizar a revolta popular para consolidar seus próprios interesses. Os mesmos camponeses e trabalhadores urbanos que tomaram as ruas, derrubaram muros e enfrentaram exércitos, acabaram excluídos das decisões que moldaram o novo regime. As promessas de igualdade, em muitos momentos, serviram de cortina para a ascensão de uma nova elite.

A Revolução, portanto, não foi um caminho reto de emancipação, mas um campo de disputas entre ideias, classes e poderes. Seus ideais continuam vivos — mas seu processo revela que nem toda mudança de regime representa, de fato, uma mudança de poder real para o povo.

Em um mundo que ainda enfrenta desigualdades profundas e polarizações, revisitar a Revolução Francesa é mais do que estudar o passado: é entender como as estruturas de dominação podem se reinventar e como, muitas vezes, as grandes transformações sociais escondem novos jogos de interesse. Resta, então, a pergunta: seremos sujeitos da mudança ou apenas figurantes nas revoluções alheias?



Imagem IX - A imagem mostra o lema da República Francesa, "Liberté, Égalité, Fraternité", gravado na fachada de um edifício.
Imagem IX - A imagem mostra o lema da República Francesa, "Liberté, Égalité, Fraternité", gravado na fachada de um edifício.

Autora: Gabrielle Lima Alves


 
 
 

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