New Deal: A recuperação americana após a Grande Depressão
- Geo Expand
- 18 de abr.
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Em 24 de outubro de 1929, a quebra da Bolsa de Valores de Nova York – no episódio conhecido como Quinta-feira Negra – marcou o início da Grande Depressão, a mais profunda crise econômica do século XX. Tal acontecimento histórico ainda apresenta consequências significativas a vários países do mundo e é tema de muitas discussões entre economistas.
Nesse meio, há muita discordância sobre o que teria, de fato, causado a crise. Enquanto alguns acreditam que seriam pequenos erros do próprio mercado financeiro do país, outros defendem que a real causa da Grande Depressão teria sido o contexto produtivo que se apresentava na época. Contudo, as razões que teriam deixado o país suscetível a tal estagnação econômica são secundárias quando se analisa o impacto que esta causou no mercado internacional como um todo, tornando críticos alguns cenários econômicos recém-reerguidos e desestabilizando países subdesenvolvidos agroexportadores.
Foram pouco expressivas as tentativas de recuperação por parte do governo dos Estados Unidos durante os primeiros anos de crise, atitude baseada em um fator agravante para os efeitos dela: a política do livre mercado, que impedia ações do Estado. Assim, entende-se que esse período foi extremamente significativo e complexo, o que demanda uma análise mais completa.

O liberalismo e outros antecedentes
É conhecido como liberalismo clássico o modelo político e doutrina econômica que prioriza a competitividade do mercado comercial, ou seja, a mínima intervenção estatal na produção – processo que faz com que haja pouca regulamentação sobre os comportamentos apresentados pelas iniciativas privadas.
Desse modo, as empresas possuem uma liberdade muito ampla para agir no cenário de compras e vendas, sempre visando tornar seus produtos o mais atrativos possível, muitas vezes se utilizando de práticas abusivas de mercado, o que gera competitividade e, consequentemente, um grande montante de lucro. O objetivo desse modelo era estabilizar as economias de nações frágeis.
No contexto da Grande Depressão, pode-se analisar que o liberalismo contribuiu para a decadência do cenário econômico nos Estados Unidos, uma vez que impedia que ações diretas contra a crise fossem tomadas pelo governo, levando em consideração que aquele era considerado um problema do mercado financeiro.
Desse modo, a situação crítica dos cidadãos americanos foi sendo prolongada, uma vez que as iniciativas privadas não conseguiam encontrar maneiras eficientes de diminuir os efeitos da crise. Esse contexto agravou cada vez mais o cenário social, aprofundando realidades de desigualdade socioeconômica.

Este cartaz da WPA (Administração de Obras Públicas) foi direcionado ao público feminino e reforça a importância da qualificação profissional como forma de inserção no mercado de trabalho. Ele representa a ampliação do papel do Estado durante o New Deal, que passou a oferecer cursos e oportunidades de capacitação, especialmente para mulheres, como resposta à crise econômica e ao desemprego.

O cartaz apresenta a valorização do trabalho masculino nos programas públicos do New Deal, em especial por meio da WPA. A frase evidencia o papel central do emprego na recuperação econômica do país. A imagem simboliza o esforço do governo em promover obras e criar postos de trabalho para enfrentar os impactos sociais da Grande Depressão, rompendo com a ideia de que o mercado deveria se autorregular sem a intervenção do Estado.
Algumas outras razões também podem ser analisadas, tal como o nível de produtividade no país. O período em que a Crise de 1929 ocorreu se caracterizava pela situação política e financeira dos países da Europa após a Primeira Guerra Mundial, marcada por imensa devastação. Dessa forma, era quase impossível para a maioria das nações afetadas continuar o processo produtivo industrial, tanto de exportação quanto de subsistência. Isso foi capaz de construir uma relação de profunda dependência da Europa com a indústria americana, na qual os Estados Unidos eram capazes de suprir muitas das necessidades do continente, devido ao alto potencial produtivo do país, e lucravam muito com isso.
Tal vínculo se estendeu por muitos anos, familiarizando a produção americana à alta demanda. Contudo, as nações europeias conseguiram se reerguer com o passar do tempo, deixando de precisar tanto dos produtos americanos e passando a estruturar novamente sua própria indústria.
Com isso, os Estados Unidos perderam parte significativa de seu mercado consumidor e, o mais importante, passaram a não ter para quem vender a grande quantidade de bens de consumo que produziam, formando um estoque excedente. Nesse contexto, o país começou a ter imensos prejuízos e a perder vários produtos, fragilizando assim a sua situação econômica, anteriormente considerada muito forte.
Descomplicando a Crise de 1929
Algumas condições específicas também contribuíram para o colapso imediato do mercado acionário: o ambiente de forte especulação, alavancado por compras de ações a crédito, e a difusão de expectativas irreais em torno dos lucros das empresas.
Dessa forma, quando, em outubro de 1929, começou uma rodada de vendas em massa para cobrir empréstimos — as chamadas margin calls —, o pânico espalhou-se quase instantaneamente. Os grandes bancos, na tentativa de conter o colapso, formaram consórcios para adquirir lotes de ações e impedir quedas bruscas de preço, mas esse esforço apenas retardou o inevitável, pois cada intervenção era seguida por mais desconfiança. Com isso, em poucos pregões, o valor dos papéis foi triturado, drenando liquidez dos bancos e transformando a Bolsa de Nova York num mercado de liquidação acelerada de ativos, onde o sentimento predominante deixou de ser o otimismo para dar lugar a um medo generalizado de perdas irreversíveis.
Da mesma forma que o mercado financeiro entrou em colapso, a economia real logo sentiu os efeitos do crash, pois os bancos enfraquecidos passaram a restringir o crédito, obrigando empresas a reduzir produção e demitir trabalhadores. Dessa forma, o desemprego e a insegurança financeira disseminaram-se pelas famílias americanas, que viram suas poupanças desaparecer e passaram a enfrentar dificuldades para atender às necessidades mais básicas.
Com isso, proliferaram assentamentos informais conhecidos como “Hoovervilles” e instaurou-se um clima de desconfiança em relação às instituições bancárias, levando correntistas a retirarem massivamente seus depósitos. Em resposta ao desespero geral e à crise prolongada, algumas medidas, pela primeira vez desde o começo da crise, começaram a ser desenvolvidas pelo Estado.
O New Deal e a esperança americana
Em novembro de 1932, em meio à profunda crise provocada pelo crash de 1929, Franklin D. Roosevelt derrotou o presidente Herbert Hoover na eleição presidencial – a primeira realizada durante a Grande Depressão – assumindo o cargo em março de 1933 com a promessa de um “New Deal” para tirar o país do colapso econômico. Sua vitória, com ampla maioria no Colégio Eleitoral, refletiu o desejo de mudança de uma nação exausta pelo desemprego e pela falência generalizada de bancos.
Dessa forma, o New Deal nasceu como um amplo conjunto de programas, reformas e regulamentações voltado a três metas principais: dar alívio imediato aos desempregados e famintos, promover a recuperação econômica dos setores mais afetados e implementar reformas estruturais que evitassem novas catástrofes financeiras.
Algumas das ações iniciais ocorreram logo nos Hundred Days (os primeiros cem dias de governo), quando Roosevelt convocou o Congresso a aprovar leis de maneira acelerada. Entre elas, destacam-se o Emergency Banking Act, para restaurar a solidez do sistema bancário, e a Civilian Conservation Corps (CCC), que empregou milhões de jovens em obras de reflorestamento e combate à erosão. Com isso, restaurou-se a confiança do público nos bancos e atenuou-se temporariamente o flagelo do desemprego, gerando uma sensação de que o governo estava disposto a agir com rapidez e eficiência.
Da mesma forma que as medidas de emergência, surgiram programas de caráter mais estrutural, como a Tennessee Valley Authority (TVA), responsável por gerar energia elétrica e controlar enchentes em uma das regiões mais pobres do país, e o Wagner Act, que fortaleceu o direito de organização sindical. Além disso, foi criado o Social Security Act, estabelecendo aposentadorias e seguros-desemprego, configurando pela primeira vez uma rede de proteção social financiada pelo governo. Essas iniciativas não apenas injetaram recursos na economia, mas redefiniram a relação entre o cidadão e o Estado, concebendo a intervenção pública como elemento essencial para o bem-estar coletivo.
Com a implementação do New Deal, o país experimentou uma considerável recuperação nos níveis de produção e emprego, embora a plena retomada só viesse com o esforço de guerra anos depois. Contudo, o mais relevante foi a consolidação de uma cultura de regulação econômica e social, que estabeleceu padrões para a atuação estatal em crises futuras. Com isso, projetou-se um modelo de Estado-provedor que inspirou políticas de bem-estar em diversas nações e redefiniu a percepção de que, em momentos de colapso, o governo pode e deve intervir para proteger a sociedade e equilibrar o desempenho dos mercados.
Conclusão
Em síntese, o New Deal representou a virada definitiva na trajetória da economia americana pós-1929, pois, ao substituir a política do laissez-faire por uma atuação estatal proativa, não apenas impediu o aprofundamento da recessão, mas também lançou as bases para um novo pacto social.
Ao combinar medidas de alívio imediato, como o socorro aos bancos e programas de trabalho público, com reformas estruturais que fortaleceram sindicatos, criaram redes de proteção social e regularam o setor financeiro, Roosevelt restabeleceu a confiança tanto dos investidores quanto das famílias. Esse conjunto de ações resgatou o dinamismo produtivo ao reabrir o crédito e gerar emprego, ao mesmo tempo em que redefiniu o papel do Estado como guardião do bem-estar coletivo.
Por fim, o legado do New Deal ultrapassou as fronteiras norte-americanas, inspirando modelos de intervenção e bem-estar social em todo o mundo e demonstrando que, diante de crises profundas, a combinação de planejamento, regulação e solidariedade pode ser o caminho não apenas para a reconstrução, mas para a criação de economias mais resilientes e justas.
Referências Bibliográficas
● Encyclopædia Britannica. New Deal. Disponível em: https://www.britannica.com/event/New-Deal. Acesso em: 18 abr. 2025.
● Encyclopædia Britannica. Franklin D. Roosevelt. Disponível em:https://www.britannica.com/biography/Franklin-D-Roosevelt. Acesso em: 18 abr. 2025.
● TurboLearn. New Deal: notas e resumos. Disponível em:https://www.turbolearn.ai/notes/ae095810-097d-4fb0-a946-85d09efcee4c. Acesso em: 18 abr. 2025.
● History.com Editors. Stock Market Crash of 1929. History.com. Disponível em: https://www.history.com/topics/great-depression/1929-stock-market-crash. Acesso em: 18 abr. 2025.
Autoria: Sophia Sampaio Quinteiro
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