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A Revolução Cubana: O impacto de Fidel Castro na América Latina

  • Foto do escritor: Geo Expand
    Geo Expand
  • 24 de mar.
  • 9 min de leitura

Introdução


A Revolução Cubana, iniciada em 1953, foi um marco na história da América Latina, transformando Cuba em um Estado socialista sob a liderança de Fidel Castro. O impacto desse evento ultrapassou as fronteiras da ilha, influenciando movimentos políticos, sociais e culturais em diversos países da região. Enquanto alguns viam Fidel como um símbolo de resistência contra o imperialismo, outros o consideravam uma ameaça à estabilidade política. Diante disso, é essencial compreender como a Revolução Cubana moldou a América Latina e quais foram suas principais consequências ao longo das décadas.


Contextualização da Pré Revolução Cubana (1898-1940)


A Revolução Cubana teve um caráter popular, priorizando os interesses da população acima de outros objetivos.


Cuba havia se tornado um país recentemente, apenas 55 anos depois de sua formação aconteceu a Revolução Cubana, em 1898. Logo após seu desenvolvimento, o país ficou sob controle dos Estados Unidos por conta de seus setores da economia, como o turismo, a produção de açúcar e tabaco, que estavam controlados por empresários estadunidenses, fazendo com que a ilha fosse vista como uma extensão dos interesses dos EUA.

Essa dependência econômica resultou em grandes desigualdades sociais, com a maioria da população vivendo na pobreza.


Politicamente, os EUA exerciam grande influência sobre o governo cubano, apoiando líderes alinhados com seus interesses. Como o presidente da época, Theodore Roosevelt que estabeleceu a política do Big Stick (Grande Porrete) em 1901 que usava o termo “Fale suavemente e carregue um grande porrete; você irá longe” que dava a ideia de que os EUA estabeleciam grandes acordos e normas de maneira diplomática, porém com uma ameaça de uso da força militar caso as normas não sejam cumpridas.


Emenda Platt: Estabelecida também em 1901 pelo presidente Theodore Roosevelt, foi uma lei que dava permissão aos EUA para que interviessem em assuntos políticos em Cuba, principalmente com outros países, além disso, qualquer outra ação que Cuba tomasse estaria ligada aos EUA até 1933. Por fim, também permitiu que os americanos construíssem uma base militar na região de Guantánamo, a Base Naval de Guantánamo, ativa até os dias atuais.


Ações como essas vindas dos EUA, trouxe um sentimento de revolta para a população Cubana e isso acabaria se transformando na revolução cubana em 1953.


Revolução Cubana (1953-1959)

 

A Revolução Cubana se inicia com o segundo mandato do presidente de Cuba, Fulgêncio Batista, que em 1940-1944 foi eleito democraticamente e apesar de seu governo ter enfrentado questões como muita corrupção e forte influência dos EUA, foi exercido dentro de um mandado constitucional.


Em 10 de março de 1952, anos após o fim do seu último mandato e a cerca de três meses antes das próximas eleições presidenciais, Batista liderou um golpe de Estado que removeu o presidente democraticamente eleito, Carlos Prío Socarrás. Esse golpe ocorreu com a ajuda e pelo apoio de setores militares, empresariais e principalmente dos Estados Unidos, que viam em Batista uma figura capaz de restaurar a ordem e proteger seus interesses na ilha.


Após o golpe, Batista voltou com a Constituição de 1940, dissolveu o Congresso e estabeleceu uma ditadura militar. Seu regime foi marcado por repressão política, censura à imprensa e crescente insatisfação da população devido à corrupção e às crescentes desigualdades sociais, pois todo dinheiro e economia do país estava sendo investido em luxos para a população estadunidense que vinha para Cuba.


Dia Nacional da Rebelião: 26 de julho de 1953, um grupo de aproximadamente 165 revolucionários cubanos, liderados por Fidel Castro, incluindo seu irmão Raul Castro, atacou o Quartel Moncada em Santiago de Cuba. O objetivo principal dessa ação era derrubar o regime ditatorial de Fulgêncio Batista.

O plano envolvia atacar simultaneamente os dois quarteis militares, considerados os maiores do país. A ideia era tomar o controle das instalações, conseguir armas e munições, e distribuir fuzis pela cidade para armar a população, incitando uma revolução maior e popular contra o governo de Fulgêncio.

O grupo liderado por Fidel Castro atacou o Quartel Moncada, mas enfrentou uma dificuldade inesperada. A falta de experiência militar e a preparação inadequada resultaram em confrontos intensos. Embora tenham conseguido penetrar nas instalações, não conseguiram tomar o controle total do quartel.


Após a falha da operação, as forças de Batista lançaram uma repressão implacável. Muitos dos revolucionários foram mortos durante os confrontos ou executados sumariamente após a captura. Fidel e Raul Castro foram presos e posteriormente julgados.

No tribunal, Fidel proferiu a emblemática frase: "A história me absolverá", refletindo sua convicção de que a luta contra a ditadura prevalecerá no futuro.


Ambos foram condenados a 15 anos de prisão. Durante seu encarceramento, receberam apoio significativo da população cubana, que via neles símbolos de resistência contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Em 1955, devido a pressões da população, Batista concedeu uma anistia, que seria o perdão aos prisioneiros políticos, incluindo Fidel e Raul Castro.


Após o perdão concedido por Fulgêncio Batista, Fidel e Raul Castro se exilaram no México, onde passaram a estudar novas ideologias e conhecer figuras relevantes, Como outra figura importante não apenas na revolução cubana, mas na história geral, Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara.


Ernesto "Che" Guevara foi um médico argentino que se tornou um dos mais emblemáticos revolucionários do século XX. Sua jornada o levou a se envolver profundamente em movimentos guerrilheiros na América Latina, especialmente na Revolução Cubana. Após o golpe militar que trouxe o governo de Jacobo Árbenz na Guatemala em 1954, Guevara se exilou no México.


No México, Raúl Castro conheceu Guevara e o apresentou a Fidel Castro. Impressionado com a visão de Che Guevara, Fidel convidou-o a integrar o Movimento 26 de Julho, que planejava a derrubada do regime de Fulgêncio Batista em Cuba.


Adoção do Marxismo:


  • Influência Mútua: Embora Guevara já tivesse ideias marxistas, sua interação com os irmãos Castro aprofundou sua compreensão e compromisso com o marxismo. Inicialmente, apenas Raúl Castro se identificava como comunista.


  • Desenvolvimento Ideológico: Durante seu tempo no México e nas fases iniciais da revolução, Guevara e os irmãos Castro discutiram e refinaram suas visões políticas, alinhando-se com ideais marxistas-leninistas.



Contribuições de Guevara à Revolução Cubana:


  • Liderança Militar: Guevara comandou tropas em batalhas cruciais, como a tomada de Santa Clara, que foi decisiva para a vitória revolucionária.


  • Visão Econômica: Após a revolução, Guevara assumiu cargos importantes, incluindo o de presidente do Banco Nacional de Cuba, implementando reformas econômicas baseadas no socialismo.



Retorno dos Rebeldes e Início da Guerrilha (1956)


Em 1956, Fidel Castro, Raúl Castro, Che Guevara e outros revolucionários desembarcaram na costa sul de Cuba, após um período de exílio no México e se refugiaram na Sierra Maestra, uma cadeia montanhosa no leste de Cuba. A estratégia era iniciar um movimento guerrilheiro com o objetivo de derrubar novamente a ditadura de Fulgêncio Batista.



Avanço Rumo a Havana: A tática consistia em conquistar cidades ao longo do caminho até a capital, Havana, a partir da Sierra Maestra fortalecendo a guerrilha e ganhando apoio da população.


Batalha de Santa Clara: Entre 28 de dezembro de 1958 e 1º de janeiro de 1959, forças revolucionárias sob o comando de Che Guevara enfrentaram tropas governamentais. Uma ação notável foi a chegada de um trem blindado que transportava reforços para o exército de Fulgêncio Batista, enfraquecendo significativamente as forças da revolução e assassinando vários revolucionários pelo caminho.


Após intensos confrontos, os revolucionários tomaram Santa Clara, quebrando a defesa central de Fulgêncio Batista e acelerando a queda do regime.


Cuba Pós-Revolução: Da Fuga de Batista à Aliança com a URSS


Com a queda de Santa Clara, as tropas revolucionárias avançaram para Havana, enfrentando o exército de Fulgêncio Batista.


Fuga de Fulgêncio Batista: No dia 1º de janeiro de 1959, Fulgêncio Batista, percebendo a iminente derrota, fugiu de Cuba para a República Dominicana, encerrando seu regime de quase sete anos.



Entrada Triunfal em Havana: Fidel Castro e seus comandantes, incluindo Che Guevara e Camilo Cienfuegos, entraram em Havana em 2 de janeiro de 1959, sendo recebidos com entusiasmo pela população.


A Revolução Cubana foi um momento inesperado para os EUA, que anteriormente tinham financiado o golpe de Fulgêncio Batista e agora com Fidel Castro determinando que Cuba estava livre de qualquer influência ou controle estadunidense.


Porém, após a Revolução, os EUA ainda exerciam influência não apenas em Cuba, mas também nos países ao redor. Em 1960, decretaram o embargo econômico, conhecido como 'bloqueio' contra Cuba, é um conjunto de restrições comerciais, financeiras e econômicas que os EUA estabeleceram contra Cuba. Ou seja, qualquer país que estabelecesse alguma relação com Cuba teria sua conexões cortadas com os EUA, que na época e até os dias de hoje é um dos países mais influentes do mundo.


Após a Revolução Cubana, o governo de Fidel Castro buscava apoio internacional para consolidar o novo modelo socialista. Diante do isolamento imposto pelos Estados Unidos que não permitia a aproximação de nenhum país com Cuba, Fidel Castro acabou voltando-se para a União Soviética, estabelecendo uma aliança política e econômica. A URSS forneceu suporte essencial, adquirindo açúcar cubano e oferecendo ajuda militar, fortalecendo o regime socialista e aprofundando a relação entre os dois países. Essa parceria gerou tensões com os EUA, que viam Cuba como uma ameaça à sua influência no continente americano. A aliança com a URSS também teve implicações estratégicas durante a Guerra Fria.


Conflito da Baía Dos Porcos (1961)


A Invasão da Baía dos Porcos, ocorrida em abril de 1961, foi uma tentativa frustrada de derrubar o governo de Fidel Castro em Cuba. O plano envolveu cerca de 1.500 exilados cubanos que anteriormente apoiavam o golpe e o regime de Fulgêncio Batista e acabaram fugindo para os EUA após a Revolução, eles foram treinados e armados pela CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA). Esses exilados, conhecidos como Brigada de Assalto 2506, desembarcaram na Baía dos Porcos, no sudoeste de Cuba, com o objetivo de iniciar uma revolta contra Fidel Castro e estabelecer um governo pró-EUA


O ataque começou em 17 de abril de 1961, com desembarques em três praias da Baía dos Porcos. No entanto, a operação enfrentou diversos problemas desde o início:


  • Falta de apoio aéreo direto dos EUA: O presidente dos EUA, John F. Kennedy, embora tivesse autorizado a operação, evitou um envolvimento direto das forças armadas americanas, temendo uma escalada do conflito.


  • Resposta rápida das tropas cubanas: As forças de Fidel Castro reagiram rapidamente, cercando e neutralizando os invasores em poucos dias.


  • Fracasso de apoio popular interno: Contrariamente às expectativas, a população cubana não se levantou contra Fidel Castro, e muitos exilados foram presos.



Após três dias de confrontos, a invasão foi completamente repelida, resultando na prisão de aproximadamente 1.200 exilados cubanos. Esse episódio representou um significativo fracasso para os EUA e para a administração Kennedy, enfraquecendo a posição americana na região e consolidando ainda mais o governo de Fidel Castro em Cuba.


Além disso, a invasão teve repercussões internacionais, evidenciando como os EUA intervieram na América Latina durante a Guerra Fria e contribuindo para a relação entre Cuba e a União Soviética.


Crise dos Mísseis (1962)


A Crise dos Mísseis de Cuba, ocorrida entre 16 e 28 de outubro de 1962, foi um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, colocando o mundo à beira de um conflito nuclear com Cuba em um papel central no episódio. Tudo começou quando os Estados Unidos descobriram que a União Soviética havia instalado mísseis nucleares em Cuba, à apenas 145 km da costa americana.


Após a tentativa frustrada de invasão de Cuba dos exilados cubanos apoiados pelos EUA, o líder soviético Nikita Kruschev decidiu instalar mísseis nucleares na ilha para dissuadir novas ações militares estadunidenses e equilibrar o poder nuclear, já que os EUA possuíam mísseis na Turquia e na Itália, próximos às fronteiras soviéticas.


Desenvolvimento da Crise


  • Descoberta: Em 14 de outubro de 1962, um avião espião dos EUA fotografou instalações de mísseis soviéticos em construção em Cuba.


  • Resposta dos EUA: O presidente John F. Kennedy foi informado e em 22 de outubro anunciou em rede nacional a descoberta, impondo um bloqueio naval à Cuba para impedir a chegada de mais mísseis soviéticos.


  • Tensão Internacional: O mundo acompanhava apreensivo, temendo que um erro de cálculo pudesse levar a um confronto nuclear.


Resolução


  • Negociações Secretas: Após intensas negociações, a União Soviética concordou em retirar os mísseis de Cuba em troca de uma garantia pública dos EUA de não invadir a ilha e, secretamente, da retirada dos mísseis americanos da Turquia.


  • Consequências: A crise levou à criação de canais de comunicação diretos entre Washington e Moscou, como a instalação de uma linha direta (hotline), e ao acordo de não criação de mísseis nucleares, visando reduzir os riscos de confrontos futuros.


Cuba Pós-Revolução: Avanços, Desafios e Perspectivas para o Futuro


A Revolução Cubana de 1959 provocou transformações significativas na sociedade e na economia do país, com reflexos que ocorrem até os dias atuais. A adoção do socialismo resultou em avanços sociais, como a erradicação do analfabetismo e melhorias no sistema de saúde. No entanto, o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos e a dependência antes do colapso da URSS contribuíram para desafios econômicos persistentes.


Nas últimas décadas, Cuba enfrentou crises energéticas recorrentes, com apagões frequentes devido à falta de infraestrutura elétrica e à escassez de combustível. Além disso, o país experimentou uma onda migratória significativa, com níveis recordes da saída de cubanos em busca de melhores condições de vida.


Em resposta a esses desafios, o governo cubano tem buscado diversificar a economia, investindo em setores como biotecnologia e turismo sustentável. No entanto, a escassez de recursos e a necessidade de equilibrar a preservação dos princípios socialistas com as demandas de uma economia globalizada continuam sendo obstáculos significativos. A sociedade cubana permanece resiliente, adaptando-se às adversidades e mantendo um forte senso de identidade cultural.


Em suma, embora Cuba tenha alcançado conquistas notáveis desde a Revolução, o país continua a enfrentar desafios complexos que exigem soluções inovadoras e colaborativas para garantir um futuro próspero e sustentável para seus cidadãos.


 
 
 

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